Turismo é a terceira chance de desenvolvimento do Recôncavo Baiano
Originalmente, o termo recôncavo designa o conjunto de terras ao redor de qualquer baía, mas nenhum se tornou tão conhecido mundialmente como o Recôncavo Baiano, formado por 33 municípios, 11.000 km², e cerca de 750 mil habitantes, ao redor da Baía de Todos os Santos, ou dependente dela. O que o caracterizou inicialmente foi a cadeia produtiva do açúcar, onde alguns lugares o produziram e outros se encarregaram de fornecer alimentos, carne, madeiras, barcos e artefatos necessários ao negócio.
Uma produção pouco conhecida do baiano, que sobrevive até os dias atuais e se tornou uma atração turística, é a produção de fumo – que foi uma moeda importante no comércio com a África - e charutos de várias cidades, como Cachoeira, Cruz das Almas, São Gonçalo e São Félix, onde está a mais famosa fábrica, a Dannemann, fundada em 1873, criadora do Centro Cultural Dannemamm, e uma das idealizadoras da Bienal de Artes do Recôncavo. Este mesmo grupo tem uma grande plantação de fumo na região, onde recebe turistas e mantém um projeto de reflorestamento. Muito pouco dessa produção fica no Brasil, pois o fumo baiano é um dos mais apreciados no mundo.
Toda esta engrenagem se beneficiou da natureza privilegiada ao redor da Baía de Todos Santos, onde deságuam rios que cortam a região e fertilizam as terras ao redor do autêntico ‘mar mediterrâneo’, com cerca de 200 km de orla, infelizmente, muito mal explorados. Ela foi generosa com os primeiros proprietários e seus herdeiros atuais que, entretanto, não o foram com índios, escravos e trabalhadores comuns, apesar da imensa riqueza que gerou por três séculos, incluindo a formação de profissionais, artistas e líderes que se destacaram no Brasil e no mundo, que ajudaram a aprimorar a sociedade humana, mas não a do Recôncavo Baiano.
A região parou e empobreceu por mais de 50 anos com o fim da escravidão, muitas pessoas migraram para Salvador ou outros lugares do Brasil, mas, outra vez, a natureza presenteou o Recôncavo. O petróleo jorrou na metade do século 20, o que originou a Refinaria Landulfo Alves, uma das maiores do Brasil, além do Pólo Petroquímico de Camaçari, a desconhecida produção de Taquipe, em São Sebastião do Passé, e o futuro estaleiro que está sendo construído em São Roque do Paraguaçu, para construção de plataformas e navios petroleiros. Mas, os abundantes recursos, os partidos políticos, e as faculdades da região, não conseguem atrair formação, desenvolvimento e renda para as pessoas. O desemprego e o subemprego continuam causando migração e violência.
De qualquer maneira, todo este trânsito de empreendedores desde o século XVI, tornou o Recôncavo Baiano conhecido mundialmente, freqüentado por navios de carga inicialmente, e pelos cruzeiros desde o começo do século passado, pois muitas pessoas, famílias e grupos econômicos têm laços seculares com este lugar e ajudam a divulgar, além das iniciativas na área de turismo que, lamentavelmente, tem sido poucas e isoladas. Culturalmente, a região é, simplesmente, uma das mais importantes das Américas, e pode oferecer para o turismo, história, povo autêntico, manifestações populares únicas, praias belíssimas, muita música e festa!
A visitação à Cachoeira, monumento nacional, porto colonial estratégico para o fumo e os minerais da Chapada Diamantina, passando por Santo Amaro, do açúcar, – precisa ser incluída São Francisco do Conde! - ainda é muito tímida, não tem recebida a devida atenção dos gestores do turismo, a maioria despreparada culturalmente e tecnicamente para a atividade. É preciso que se aprimore a ligação de São Félix com a BA 001 para facilitar o deslocamento na região, assim como é preciso movimentar o aeroporto de Valença, outra cidade de relevante importância histórica, econômica e turística, e que tem recebido muita gente em Guaibim, que poderia ser ligada a Caixa Pregos por uma ponte, e assim recuperar o turismo em Itaparica, abandonada pelo governo atual.
Morro de São Paulo é o carro chefe do turismo no Recôncavo Baiano! É preciso aproveitar esse interesse mundial e divulgar outros atrativos da região, mas eles têm que ser preparados. Não basta o lugar ser bonito e famoso, ele tem que ser acessível, seguro e oferecer bons serviços, que incluem o conhecimento da história, da indústria turística, do perfil dos visitantes, e da região. Morro precisa de um porto à sua altura, de disciplinamento do serviço de carregadores de mala, precisa conter a infiltração de aventureiros no turismo e, principalmente, manter a limpeza das praias. A terceira praia precisa de um trabalho especializado de contenção da maré e circulação das pessoas.
A prefeitura de Cairú e o governo da Bahia têm um grande negócio e uma grande responsabilidade em suas mãos, pois não há outras opções de emprego na região, e Morro de São Paulo acaba atraindo gente demais em busca de trabalho. É preciso controlar a entrada de aventureiros e de turistas, como acontece em outros atrativos do mundo, pois o limite são os leitos disponíveis. Não é demais lembrar que turistas não se plantam, como a cana de açúcar, ou se extrai, como o petróleo, é gente que precisa ser atraída, que vê, pensa, critica, recomenda, ou não. A cana durou 300 anos, o petróleo já tem 60, e o turismo pode durar mais de 2000 anos, como na Grécia e na Itália. Ou não!
O autor José Queiroz é guia de turismo e agente de viagem especializado em Turismo Receptivo